
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) voltou a cair em abril, registrando retração de 0,4% em relação a março e de 1,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que identificou uma sequência de três meses consecutivos de baixa, com o índice atingindo 101,6 pontos — ainda acima da linha de otimismo (100 pontos), mas com sinais evidentes de perda de fôlego no consumo.
A principal razão para o desaquecimento, segundo a CNC, está na persistência de um cenário macroeconômico desafiador, com juros elevados e inflação resistente, fatores que reduzem o poder de compra das famílias e dificultam o acesso ao crédito.
“Com o cenário de juros altos e inflação resistente, a tendência é que o consumo continue em ritmo lento ao longo do ano, apesar dos esforços do comércio varejista, com resultados semelhantes ou inferiores a 2024. É nesse contexto que a atuação da CNC se torna ainda mais essencial, defendendo políticas que estimulem a atividade econômica e apoiando os empreendedores”, afirmou o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Apesar da retração geral do índice, alguns componentes da ICF mostraram desempenho positivo. O item Acesso ao Crédito teve alta de 0,6% em relação a março, reflexo de uma leve melhora na liquidez do mercado. No entanto, ainda permanece 1,0% abaixo do registrado em abril do ano passado.
Por outro lado, o subindicador Momento para Compra de Bens Duráveis apresentou a maior queda no comparativo anual, com recuo de 7,2%, evidenciando o impacto da taxa Selic sobre os financiamentos e a menor propensão ao consumo de itens de maior valor.
O componente Emprego Atual registrou crescimento de 0,3% no mês, embora continue em queda no acumulado anual (-0,3%). Já a Renda Atual teve redução mais expressiva: -1,8% no mês e -1,7% em 12 meses, refletindo o efeito da inflação sobre o orçamento das famílias.
Famílias de maior renda percebem mais os efeitos
A pesquisa também revelou diferenças importantes entre faixas de renda e gênero. Famílias com renda acima de 10 salários mínimos apresentaram recuo mais acentuado na intenção de consumo (-2,6%), ainda que se mantenham mais otimistas (115,1 pontos) do que aquelas com rendimentos inferiores (98,8 pontos), cujo índice caiu 1,5%.
Além disso, o levantamento mostra que os homens demonstraram maior cautela no consumo, com queda de 2,3% na intenção de compra, frente a um recuo de 0,8% entre as mulheres. O acesso ao crédito também foi mais restrito entre os homens (-2,2%), enquanto as mulheres registraram avanço de 0,8% no mesmo item, indicando maior seletividade por parte do mercado financeiro.
“A pesquisa revela clara perda de fôlego do consumo, especialmente entre as famílias de maior renda, que tradicionalmente sustentam o consumo de bens duráveis. Apesar disso, observamos alguma resiliência nas faixas de menor renda, o que sinaliza a importância de políticas de estímulo e proteção ao consumo básico como ferramenta de sustentação da economia”, avaliou Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.
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