Extremoz: moradores do Portal do Sol vivem abandono público - O POTI

Extremoz: moradores do Portal do Sol vivem abandono público

Imagem aérea de parte do bairro Portal Sol, em Extremoz. Foto: Cedida.

De acordo com os dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2022, a população do município de Extremoz cresceu mais de 150%, saindo de 24.569, em 2010, para 61.571. Esse boom populacional pode ter sido causado pelo número de novas unidades habitacionais vendidas em parceria com programas sociais do governo, como o Minha Casa, Minha Vida. Essas construções acabam se tornando conjuntos e, consequentemente, grandes bairros ao longo do tempo, como é o caso do Portal do Sol, localizado às margens da estrada de Genipabu.

Contudo, o executivo municipal não conseguiu acompanhar o crescimento da região, deixando a desejar em serviços básicos, como educação, saúde, transporte, segurança e pavimentação. Segundo os moradores do Portal do Sol, um dos maiores desafios enfrentados por eles é falta de transporte coletivo.

A assistente de atendimento Joana Mikarla, disse aO POTI que deixou de aceitar uma promoção no trabalho por não ter como voltar para casa no final do dia, já que, se aceitasse a oferta, seu horário de trabalho passaria por mudanças.

“Dependo 100% do transporte coletivo para voltar para casa. Saio do trabalho às 16h, se o alternativo quebrar tenho que ficar esperando até às 19h”, disse.

Também morador do bairro, Rafael Campos, explicou que a comunidade é atendida pela linha 125, da Guanabara Transportes, e por alternativos. Ele disse que o ônibus passa apenas três ao dia. Já os alternativos, não têm horário certo e, frequentemente, estão quebrados.

Por causa da falta de transporte público, Thalita Sterphan afirmou que chega a gastar R$ 400 mensais em transportes por aplicativo.

Procurada pelo POTI, a Prefeitura de Extremoz disse que “decisões referentes às linhas de ônibus são competência da empresa Guanabara, contratada pelo Governo do Estado. Apesar disso, a Prefeitura já pleiteou pelo aumento da frota, tendo sido atendida recentemente com algumas adaptações: a linha 125 (que operava em 3 veículos) foi extinta e os bairros passaram a ser atendidos pela linha 120 – que opera em 8 carros, sendo esse um acréscimo de 5 novos ônibus na localidade”.

Contudo, a linha 125, que segundo a prefeitura, foi extinta, segue em circulação. Ela sai do terminal do Sport Club Natal, bairro imediatamente vizinho ao Portal do Sol, três vezes ao dia, de acordo com o panfleto disposto na parede do terminal (imagem abaixo).

Foto: Cedida.

A falta de transporte público não afeta apenas os trabalhadores que precisam sair do bairro, mas também os estudantes, já que na região tem apenas uma escola de ensino infantil. Por causa disso, os adolescentes que cursam o Ensino Médio precisam frequentar escolas na zona Norte de Natal, como a Escola Estadual Zila Mamede, localizada no bairro Pajuçara.

A escola oferece um ônibus para que os estudantes possam se deslocar até a unidade. Entretanto, o veículo passa apenas na entrada do bairro, fazendo com que muitos alunos precisem andar longas distâncias até a parada.

Como é o caso do filho da empreendedora Gildete Azevedo, que cursa a 1ª série do Ensino Médio. Segundo ela, a distância entre sua casa e o ponto onde o transporte escolar passa é de 3Km. Por isso, resolveu pagar um transporte particular para levá-lo ao ponto.

“Tive que diminuir o gasto na alimentação para ter condições de cobrir o transporte particular para levar meu filho à escola. E ainda não é certeza que ele chegue lá todo dia, já que, frequentemente, o veículo que faz o transporte quebra, como foi o caso hoje (quarta-feira, 20)”, desabafou.

E esse não é o único desafio enfrentado pelos estudantes. Um morador do bairro revelou que já presenciou eles serem vítimas de assalto enquanto estavam a caminho da escola.

Toda essa situação levou os moradores a clamar por unidades de educação no bairro: “precisamos investir no desenvolvimento dos jovens na região. É necessário que eles possuam uma ocupação. Adolescentes precisam ser monitorados de perto pelos pais e os jovens socializando entre si traz mais segurança para nosso futuro”, opinou Lucas Souza.

Outro serviço apontado como deficiente pela comunidade local é a saúde. Os moradores alegaram que para serem atendidos precisam ir à Unidade Básica de Saúde (UBS) de Genipabu, que fica a 4,6Km do Portal do Sol. Com isso, os cidadãos não têm acesso fácil e prático a serviços como vacinas, consultas médicas, inalações, injeções, curativos, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico, encaminhamentos para outras especialidades clínicas e fornecimento de medicação básica.

Ao POTI, a administração municipal de Extremoz afirmou que “o município enfrentou muitos desafios nos últimos anos, em razão do crescimento populacional e a falta do envio de recursos federais compatíveis. Com a recente atualização do censo do IBGE, após 10 anos desatualizado, foi oficialmente registrado um salto de 28 mil para 61 mil habitantes na cidade. Com isso, os valores recebidos passarão por reajustes e, dessa forma, a Prefeitura espera poder investir melhor nas necessidades de cada região”. O executivo ainda disse que abriu um questionário para que os munícipes deem sugestões de como devem ser usados esses recursos.

A pavimentação do bairro também é alvo de críticas e reclamações frequentemente. O calçamento da área é feito pelas construtoras que atuam no local, que usam pedras do tipo paralelepipado. “A qualidade das pedras usadas é péssima, são cheias de pontas e o calçamento se solta com facilidade devido ao movimento intenso de veículos pesados, como caminhões e máquinas das construções”, disse Rafael Campos.

A má qualidade dos calçamentos e os buracos causados pelas fortes chuvas já chegaram a causar acidentes. Lucas Souza relatou que há poucos dias sua esposa sofreu uma queda de moto na avenida Adriano Suassuna. “Ao realizar uma conversão à esquerda, ela não visualizou os desníveis do calçamento e caiu em cima de malhas de ferro da obra das casas que estavam em construção”.

O mecânico em refrigeração Gildemar Silva, disse que frequentemente precisa trocar peças de seu veículo por causa dos danos provocados pelos buracos e desníveis das ruas do bairro.

O que afeta também as pessoas que precisam fazer uso do transporte por aplicativo, como no caso de Gildete. Ela disse aO POTI, que muitas vezes os motoristas cancelam as viagens e argumentam que o calçamento do bairro causa muitos danos aos veículos.

Sobre a questão citada acima, a gestão municipal disse que tem um projeto em andamento, para pavimentar toda a cidade, e que, atualmente, 17 ruas estão sendo calçadas no conjunto Central Park 1, distante 11Km da comunidade ouvida nesta reportagem.

Além disso tudo, o Portal do Sol sofre, também com a inconstante coleta de resíduos sólidos. Os moradores disseram que o recolhimento do lixo acontecia três vezes por semana, sendo às quartas, sextas e domingos. Contudo, há cerca de dois meses receberam o comunicado que a coleta passaria a ser às terças, quintas e sábados.

Apesar disso, eles relataram que o carro do lixo não passa nos dias anunciados e, há semanas em que sequer passa ou, quando o faz, não atende todas as ruas. Na noite desta terça-feira (19), por exemplo, o POTI flagrou (imagem abaixo) montes de lixos espalhados pelas ruas.

Foto: Naryelle Keyse.

Mas, de acordo com os moradores do bairro, o caminhão adentrou ao bairro por volta das 8h20 desta quarta-feira.

Segundo a prefeitura, “a empresa MB Limpeza Urbana foi contactada e informou que teve um problema com o caminhão coletor na semana passada, mas que o serviço já foi regularizado”.

Porém, os moradores dizem que isso já aconteceu diversas vezes e não é um problema pontual, como apontado pela empresa responsável pela coleta.

Não muito diferente de outras regiões do município e do estado em que está inserido, o Portal do Sol sofre também com a insegurança. Segundo os cidadãos do bairro, no último final de semana foram registrados quatro arrombamentos de imóveis. Em um dos casos, os criminosos chegaram a fazer churrasco e fritar batata frita para festejar enquanto furtavam os móveis da casa.

Em nota enviada aO POTI, o 16º Batalhão da Polícia Militar disse que está ciente das preocupações dos moradores e tem empenhado esforços para melhorar a segurança da região.

No último mês de agosto, o 16º Batalhão de Polícia Militar recebeu três novas viaturas, o que representa um importante passo para a ampliação da nossa frota. Essa medida permitirá um melhor planejamento operacional e nos capacitará a aumentar a cobertura de patrulhamento em áreas que requerem atenção especial, incluindo o bairro Portal do Sol”, diz a nota.

O POTI tentou falar com representantes da Guanabara Transportes, mas não foi atendido.