Finados e eleições: Memórias e feridas abertas em um Brasil dividido - O POTI

Finados e eleições: Memórias e feridas abertas em um Brasil dividido

Imagem: Agência Brasil

O peso das eleições e o ciclo da violência

Neste novembro, o Brasil reviveu o segundo turno das eleições municipais em um contexto de tensão. A violência política, que aumentou 130% em quatro anos, deixou marcas profundas. Cada votação, ao invés de unir, tornou-se um campo de confronto onde cidadãos, candidatos e até jornalistas sentem o peso do medo. A disputa política, antes vista como um exercício de cidadania, agora carrega tons de hostilidade e represália.

Aliás, Jesse Souza, sociólogo e autor brasileiro, descreve as estruturas invisíveis que mantêm a maioria da população em silêncio. Ele aponta que a violência política reflete esse controle social, onde o poder utiliza o medo para calar vozes. Quando falamos em “eleições pacíficas“, estamos, portanto, ignorando as ameaças diárias sofridas por quem se atreve a opinar.

Finados: memórias e cicatrizes de um país dividido

O Dia de Finados, que se aproxima, é um convite à reflexão sobre o passado. Contudo, em um Brasil tão dividido, o respeito aos mortos se entrelaça com o descaso pelos vivos. Eduardo Galeano, em As Veias Abertas da América Latina, fala das marcas de exploração e violência que moldaram nosso continente. No Brasil, essas feridas, infelizmente, nunca cicatrizaram completamente. O que vemos nas eleições é, portanto, apenas uma manifestação de algo muito mais profundo: a desigualdade que atravessa nossa história.

Quando tratamos a memória como algo descartável, repetimos erros e perpetuamos o ciclo de violência. As eleições, que deveriam simbolizar a liberdade de escolha, estão se tornando, entretanto, espaços onde a segurança individual está em risco. Precisamos, urgentemente, romper com essa cultura de hostilidade que divide e enfraquece nossa sociedade.