Por Larissa Cavalcante e Naryele Keyse
Nos últimos anos os termos “energia renovável”, “transição energética” e “energia sustentável” tem ganhado destaque em todo o mundo, mas principalmente no Rio Grande do Norte, que se tornou o estado com maior potencial de energia renovável instalado do Brasil.
Segundo um relatório da Coordenadoria de Desenvolvimento Energético do Rio Grande do Norte (Coder), órgão ligado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), emitido em janeiro deste ano, o estado tem 24,6 gigawatts (GW) de potência instalada.
Sendo 38% dessa potência vindo da energia solar, que apresentou um crescimento de 333% entre os anos de 2021 e 2023, somando um investimento de R$ 17,1 bilhões apenas no ano passado. E não para por aí, a expectativa é que a produção de energia fotovoltaica no Estado cresça 37% até 2026.
Mas qual a diferença da energia solar no dia a dia de uma residência? Quais os benefícios trazidos pelo sistema? Vale mesmo a pena fazer uso da energia solar em casa? O POTI conversou com o engenheiro e consultor técnico da Forte Solar, Mário Segundo, que explicou de forma simples as vantagens e desvantagens da nova queridinha do estado. Confira:
O POTI – O que é energia solar e como funciona a geração de energia a partir do sol?
MS: Energia solar como é popularmente conhecida a energia elétrica fotovoltaica, que é uma das muitas formas de obtenção de energia para uso na sociedade, tais como a hidrelétrica (águas), termoelétrica (motores a combustão), eólica (vento), entre outras. A solar transforma a energia luminosa proveniente do sol em energia elétrica.
O POTI – Quais são os principais componentes de um sistema de energia solar residencial?
MS: Essa transformação é feita com o uso de dois tipos de equipamentos principais. Os módulos fotovoltaicos – também conhecidos como placas solares – transformam a energia luminosa do sol em energia elétrica. Essa energia passa por um segundo equipamento chamado conversor (ou inversor) de frequência, que adequa a energia que sai das placas para o uso doméstico.
O POTI – Quais são os benefícios de ter um sistema de energia solar em casa?
MS: O principal benefício para o consumidor da utilização de energia solar residencialmente se dá pela economia financeira, uma vez a energia utilizada não será adquirida da concessionária, mas gerada localmente. Socialmente, o principal benefício é na redução do impacto ambiental, pois o processo de geração não emite poluentes ou gases do efeito estufa.
O POTI – Como a instalação de painéis solares afeta o valor de revenda de uma casa?
MS: Apesar do impacto negativo na estética do imóvel, eu acredito que os benefícios econômicos influenciam positivamente no preço, principalmente porque o comprador terá a vantagem de incluir o valor nos financiamentos de longo prazo oferecidos para habitação.
O POTI – Quais são os fatores a serem considerados ao determinar o tamanho ideal de um sistema de energia solar para uma residência?
MS: Para dimensionar um sistema de geração fotovoltaica, são levados em consideração principalmente o consumo pretendido pelo cliente e a localização do imóvel. Casas que consomem muita energia precisam de sistemas mais potentes. Felizmente, a região é beneficiada pela alta incidência solar, o que barateia nossos sistemas em comparação com outras regiões do Brasil.
O POTI – Qual é o processo de instalação típico de um sistema de energia solar em uma casa?
MS: A primeira etapa para a instalação de um sistema de energia solar é o dimensionamento, que é feito com base no histórico de consumo do cliente, facilmente obtido em sua última conta de luz. Em seguida, é necessária a aprovação da concessionária de energia elétrica que fará a verificação se o sistema se adequa à potência disponibilizada para o imóvel. Uma vez aprovada, a instalação é realizada através da fixação das placas solares no telhado e conexão do conversor de frequência à rede elétrica. A etapa final se dá pela vistoria da instalação pela concessionária.
O POTI – Quais são as opções de armazenamento de energia disponíveis para sistemas solares residenciais?
MS: Tecnicamente, a única forma de armazenamento de energia elétrica seria por meio de baterias e esta é a forma utilizada em instalações distantes de centros urbanos e linhas de distribuição. Entretanto, existe uma forma de armazenamento “contábil”, digamos assim, que é através de créditos junto à concessionária. Funciona assim: Nem toda a energia gerada durante o dia é usada pelo consumidor naquele momento. Esse excesso é injetado na rede de distribuição e contabilizado para uso futuro do cliente.
O POTI – Quais são os custos iniciais envolvidos na instalação de um sistema de energia solar e como esses custos se comparam com os benefícios a longo prazo?
MS: O custo de um sistema fotovoltaico não é baixo. Para consumidores com conta de energia na faixa dos R$ 500, será necessário desembolsar em torno de R$ 20 mil para uma instalação que supra todo o seu consumo. Contudo, com a economia gerada, este valor pode ser recuperado dentro de três a quatro anos. Além disso, existem diversas modalidades de financiamento que permitem que o cliente adquira o sistema pagando uma mensalidade equivalente ao valor de sua conta de luz em um contrato de cinco anos. Levando em consideração que o sistema tem vida útil superior a vinte anos, o cliente terá mais de quinze anos de custo quase zero com energia elétrica.
O POTI – Existem incentivos fiscais ou programas de financiamento disponíveis para tornar a energia solar mais acessível para os proprietários de residências?
MS: No Rio Grande do Norte, o consumidor é beneficiado indiretamente através da isenção de impostos de importação e ICMS, medidas que barateiam o produto final. Todavia, há uma tendência de inclusão por vários estados e municípios de benefícios como a redução de impostos para os usuários, além do financiamento do sistema através do programa Minha Casa, Minha Vida.
O POTI – Como a manutenção de um sistema de energia solar residencial funciona e quais são as melhores práticas?
MS: De maneira geral, a única manutenção necessária para um sistema de energia solar é a limpeza anual dos painéis, que podem perder rendimento devido ao acúmulo de sujeira.
O POTI – Quais são os desafios comuns enfrentados por proprietários de sistemas de energia solar residencial e como eles podem ser superados?
MS: O principal desafio se dá no momento da aquisição do sistema, pois, apesar de ser um sistema relativamente simples, existem algumas caracteristicas que podem diferenciar as opções oferecidas pelos fornecedores. É importante pesquisar bem e tirar todas as dúvidas com os vendedores, sem pudor de comparar orçamentos de fornecedores diferentes.
O POTI – Quais são as tendências emergentes na indústria de energia solar residencial que os proprietários devem estar cientes?
MS: O setor de energia solar está em franca expansão e a cada dia surgem novidades tecnológicas que tendem a trazer sempre mais vantagens ao consumidor final e ao instalador. É interessante que se observe a potência individual de cada painel solar, pois isso significa que mais energia será gerada em um espaço menor. Ou seja, um sistema antigo ocupará mais espaço no telhado do que um sistema moderno.
O POTI – Qual é a sua opinião sobre se vale a pena ter um sistema de energia solar em casa, levando em consideração todos os aspectos econômicos e ambientais?
MS: Economicamente, não há dúvida que esta é a melhor opção para praticamente todo tipo de consumidor. Do ponto de vista ecológico, apesar da energia solar ser vendida como uma alternativa limpa por não gerar gases de efeito estufa em seu período de funcionamento, há de se considerar outros aspectos, como o impacto ambiental durante o processo de fabricação de seus componentes e também a geração de resíduos após seu descarte.
O POTI – Existe um cálculo que possa ser feito de forma simples para saber se vale a pena instalar energia solar na minha casa?
MS: Mesmo com a geração local, a conta de energia não é totalmente zerada, pois existem despesas fixas mínimas de manutenção cobradas pela concessionária, que é de cerca de R$ 30 para consumidores monofásicos e R$ 100 para os trifásicos. Assim, se a conta do cliente não for pelo menos o dobro da taxa mínima, o retorno financeiro se dará depois de muito tempo, o que não é viável para a maioria dos consumidores.