
Durante encontro oficial em Paris nesta quinta-feira (5), o presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu alterações no acordo entre o Mercosul e a União Europeia, especialmente em relação à produção agrícola. Para o mandatário francês, o tratado, negociado há mais de duas décadas, carece de mecanismos que garantam igualdade nas exigências ambientais entre os países europeus e sul-americanos.
“Proibimos os nossos agricultores de utilizarem agrotóxicos, por exemplo, para respeitar mais o meio ambiente. Mas os países do Mercosul não estão no mesmo nível de regulamentação. Há uma discrepância. Não é uma discrepância de competitividade, de qualidade, mas na regulamentação”, afirmou Macron, em coletiva de imprensa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O francês defendeu a adoção das chamadas cláusulas-espelho, que obrigariam os países exportadores a seguir os mesmos critérios ambientais e sanitários exigidos dos produtores dentro da União Europeia. Macron também mencionou a necessidade de cláusulas de salvaguarda para proteger o setor agrícola europeu.
“Como vou explicar aos agricultores [franceses] que, no momento em que eu exijo que eles respeitem as normas, abro o mercado para produtos que não respeitam essas mesmas normas? Qual vai ser o resultado? O clima não sai beneficiado, vamos matar a nossa agricultura. Isso é injusto e não é a visão do presidente Lula. Temos que melhorar e aprimorar o acordo”, reforçou.
Em resposta, Lula apelou por uma postura mais flexível por parte do aliado europeu: “Meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo com o nosso querido Mercosul”, disse, destacando que o Brasil assumirá a presidência do bloco no próximo semestre e que pretende concluir as negociações durante seu mandato.
O presidente brasileiro argumentou que o país tem compromisso com a preservação ambiental e que bloqueios ao acordo podem ser superados com diálogo entre os agricultores dos dois lados.
“É importante que os agricultores franceses saibam que, possivelmente, a nossa agricultura seja complementar. O que não pode é um bloqueio. Vamos colocar eles pra conversar com os nossos agricultores, vamos colocar as nossas cooperativas para discutir com as cooperativas francesas. Vamos fazer uma mesa de negociação. Tenho certeza que não haverá dúvidas”, afirmou Lula.
O líder brasileiro também destacou o desafio de monitorar um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, reiterando o compromisso com a proteção dos biomas nacionais. “Não permita que nenhum país europeu coloque dúvida sobre a defesa que o Brasil faz para diminuir o desmatamento”, declarou.
Reforço nas relações bilaterais
A visita marca um momento significativo para a diplomacia entre Brasil e França, que não recebia um chefe de Estado brasileiro desde 2012, ainda no governo Dilma Rousseff. Nesta quinta-feira, os dois países firmaram 20 acordos bilaterais, abrangendo áreas como saúde, segurança pública, educação, ciência e tecnologia.
Na mesma ocasião, Lula comentou os números do comércio entre os dois países, destacando queda nos volumes em comparação com 2012. “Demos um passo atrás. E é preciso, agora, dar dois passos à frente, como se estivéssemos dançando um bom bolero latino-americano”, brincou o presidente.
Atualmente, a França é o terceiro maior investidor estrangeiro no Brasil, com estoque superior a US$ 66,3 bilhões. O comércio bilateral atingiu US$ 9,1 bilhões em 2024.
Lula participa nesta sexta-feira (6) do Fórum Econômico Brasil-França, que reunirá líderes empresariais e autoridades de ambos os países para fortalecer laços comerciais e estratégicos.
*Com Informações de Agência Brasil













