No dia de ontem (23), as manchetes potiguares foram tomadas pela denúncia do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Rio Grande do Norte (SINDSAÚDE-RN) de que o Hospital Regional Walfredo Gurgel (HWG) está sofrendo com um grande desabastecimento de insumos básicos para atendimentos.
De acordo com o coordenador do sindicato, Carlos Alexandre, faltam itens como sabão, luvas, gaze, fio de sutura, e medicamentos, como dipirona e antibióticos. Esse desabastecimento tem prejudicado de forma direta tanto funcionamento da saúde pública do estado, tendo em vista que a unidade recebe pacientes os 127 municípios da federação, realizando em média 200 atendimentos diários apenas no Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, quanto a saúde dos internados.
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (SINMED-RN), George Ferreira, há poucos dias um paciente precisou ter o peito abertos duas vezes.
“Teve uma cirurgia que precisou abrir o tórax e essas cirurgias normalmente são fechadas com fio de aço, o cirurgião fechou com fio normal porque não tinha fio de aço, no outro dia arranjaram e o paciente teve que ser reoperado”, contou.
AO POTI, ele disse que fez uma visita ao Hospital há 30 dias e o cenário era parecido com o que foi relatado pelo SINDSAÚDE-RN. Com isso, o SINMED-RN fez uma solicitação direta ao diretor para que as demandas dos médicos fossem atendidas. A resposta que teve, foi que licitações já haviam sido enviadas à Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (SESAP).
Doutor Geraldo afirmou ainda que houve dias em que as cirurgias ortopédicas foram suspensas por causa de um débito do governo estadual com as empresas que fornecem órteses, próteses, placas, parafusos, fios e outros itens específicos para esse tipo de procedimento.
“Um dos fornecedores me ligou e deu ciência de que estavam fazendo a paralisação do fornecimento por falta de pagamento, que vem desde dezembro”, disse.
Ainda conforme o relato do responsável pelo SINMED-RN, essas questões não afetam apenas o HWG, se estendendo aos demais hospitais regionais administrados pela SESAP.
“Nós temos agora um problema no Hospital Tarcísio Maia, em Mossoró, e no Hospital Regional Nelson Inácio dos Santos, em Assú, onde as empresas terceirizadas têm acumulado atrasos e não conseguem pagar os profissionais.
Por causa dessas e outras situações, os trabalhadores da saúde do RN decidiram entrar em greve e montaram um acampamento na sede da governadoria, no Centro Administrativo, em forma de protesto e em busca de diálogo com a governadora Fátima Bezerra.
O que diz a SESAP?
AO POTI, a SESAP garantiu que “mantém diuturnamente um trabalho em razão do abastecimento das unidades hospitalares, mantendo todas em condições de funcionamento para receber a população potiguar com os insumos necessários”.
Sobre a greve, a Secretaria disse que junto ao governo “mantêm um diálogo permanente com os entes sindicais, por meio da Mesa SUS, e apresentaram uma série de propostas a respeito dos pleitos de aumento salarial apresentados”.
A SESAP informou que a situação em que o paciente precisou ser reaberto para mudar o fio com o qual foi fechado aconteceu há algumas semanas e não foi causada por falta de material, mas por um erro durante a instrumentação para a cirurgia. Segundo o governo, ao perceber que existia o material correto no hospital, a equipe reabriu o paciente para corrigir o erro.
“A Secretaria de Estado da Saúde Pública e a direção do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel esclarecem que a situação relatada a respeito da falta de fio de aço não procede. Na ocasião do procedimento cirúrgico citado o hospital encontrava-se devidamente abastecido com o insumo necessário para o atendimento ao paciente. O caso, registrado há algumas semanas, se deu por falha de comunicação entre o setor responsável pelo centro cirúrgico do hospital e o setor de farmácia, que detinha estoque do material. Por essa razão, foi aberta uma sindicância que está apurando as condições em que ocorreram essa falha“, diz a nota enviada pela SESAP ao POTI.
Quais as reivindicações dos trabalhadores da saúde do RN?
O SINDESAÚDE-RN e o governo do Estado montaram a Mesa SUS, uma mesa de negociação para discutir as demandas da categoria e ouvir as propostas da administração estadual.
Além de cobrar condições dignas e o abastecimento regular dos insumos básicos de trabalho, a categoria pede:
- Recomposição salarial de 26,52% para ativos e aposentados;
- Mudança de carga horária de 30h para 40h semanais;
- Adequação dos adicionais de insalubridade;
- Pagamento retroativo do piso da enfermagem;
- Pagamento do piso dos técnicos de radiologia;
- Pagamento dos plantões eventuais dentro do mês trabalhado.
O que propõe o Governo do Estado?
Segundo Carlos Alexandre, o governo propôs um reajuste salarial de 2,31% somado ao acumulo do Índice de preços no consumidor de 2024 para começar a ser pago em janeiro de 2025. O mesmo foi proposto para o ano seguinte.
“A reposição não contempla as perdas salariais que a gente vem cobrando, de 26,52%. Levamos a proposta para assembleia, o pessoal rejeitou por unanimidade, e as negociações continuam”, explicou o coordenador do SINDSAÚDE-RN.
Durante uma coletiva de imprensa na tarde de ontem (23), o secretário estadual de Administração, Pedro Lopes, disse que “estamos buscando resolver o problema de todas as categorias e estamos disponibilizando o mesmo percentual de incremento na folha para cada um e tentando dentro desse mesmo percentual resolver a solução de todas as categorias. Então, estamos dando o mesmo tratamento para todos os servidores da Segurança Pública”.
Ele ressaltou que mesmo com um cenário financeiro difícil, o governo não deixou de oferecer uma proposta e que tem a expectativa de fechar um acordo ainda esta semana.
Greves ativas no estado
Além dos trabalhadores da Saúde, o Rio Grande do Norte enfrenta a greve da Polícia Civil, que deu início à paralisação dos serviços nesta terça-feira (23). De acordo com o Sindicato dos Policiais Civis do Rio Grande do Norte (SINPOL-RN), a categoria cobra valorização salarial.
Na próxima terça-feira (30), os servidores do Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN-RN) vão se reunir em assembleia para avaliar a proposta feita pelo governo estadual e deliberar sobre o indicativo de greve.
Os servidores da autarquia reivindicam:
- Cumprimento da data-base no mês de março, conforme estabelecido pela Lei nº 696/2022;
- Reajuste para recomposição da inflação do período de janeiro de 2022 a fevereiro de 2024, mais ganho real de 20% para os servidores da ativa, aposentados e pensionistas;
- Cumprimento do acordo do Concurso Público;
- Regulamentação das Gratificações;
- Reajuste do Auxílio Alimentação para R$ 1.700,00;
- Programa de Incentivo a Qualificação (PIQ); e
- Reforma Estatutária e adoção de medidas administrativas no Departamento, que contemple: a) o respeito e a autonomia administrativa do órgão; b) o retorno da vinculação da Autarquia à Secretaria de Segurança Pública do RN; c) a eleição direta para Diretor Geral do DETRAN; e d) a criação do cargo de agente de trânsito.
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