O turismo nacional no Brasil registrou um grande crescimento em 2023, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), os gastos dos brasileiros com viagens internas alcançaram R$ 20,1 bilhões, representando um aumento de 78,6% em relação a 2021. O número de viagens também subiu, totalizando 21,1 milhões em 2023, um incremento de 71,5% comparado ao período anterior.
Os resultados refletem o impacto do fim da pandemia de covid-19, que havia restringido o turismo nacional. Em 2020, os brasileiros gastaram R$ 12,6 bilhões com viagens, número que caiu para R$ 11,3 bilhões em 2021, antes da forte recuperação observada no ano passado.
Segundo o analista William Kratochwill, “em 2022, o convênio [com o IBGE] não vigorou, e a pesquisa não foi realizada”. Ele explica que as comparações entre os anos devem considerar variações sazonais, uma vez que em 2019, a pesquisa foi feita apenas no último trimestre. “Pegando só o último trimestre de 2019, é natural que haja um viés do período do ano”, acrescenta.
Mudanças no perfil das viagens
Em 2023, 19,8% dos lares brasileiros tiveram ao menos um morador que viajou, um crescimento significativo em relação a 2021, quando esse percentual era de 12,7%. A pesquisa identificou que a maior parte das viagens, 97%, teve o próprio Brasil como destino, com o Sudeste sendo a região mais visitada (43,4%).
As viagens a lazer ganharam maior destaque, passando de 33% em 2020 para 38,7% em 2023. No entanto, “sol e praia” como motivação perdeu força, caindo de 55,6% para 46,2%. Em contrapartida, a busca por “cultura e gastronomia” cresceu de 15,5% para 21,5% no mesmo período.
Além disso, a pesquisa aponta que o transporte mais utilizado em 2023 foi o carro particular, responsável por 51,1% das viagens, seguido pelo avião (13,7%) e ônibus (13,3%).
Relação entre renda e viagens
O estudo também destaca a correlação entre renda e a capacidade de viajar. Em 2023, 79,7% dos domicílios brasileiros tinham rendimento per capita inferior a dois salários mínimos. No entanto, entre os lares que realizaram viagens, essa proporção era de 62,9%, indicando que famílias de menor renda são menos representadas nas estatísticas de viagens.
Entre os principais motivos para não viajar, a falta de dinheiro foi citada por 40,1% dos entrevistados, chegando a 55,4% entre aqueles com renda inferior a meio salário mínimo. Já entre os que ganham quatro ou mais salários mínimos, apenas 12,1% alegaram falta de recursos financeiros.
Perspectivas para o setor
As estatísticas indicam uma recuperação robusta do setor turístico no Brasil, com mudanças nos hábitos de viagem e nos destinos preferidos. Viagens curtas e sem pernoite representaram uma parcela significativa, e a demanda por deslocamentos ligados ao lazer superou as visitas a familiares, uma inversão de tendência observada durante a pandemia.
“Mesmo com o avanço da tecnologia [meios de videoconferência], ainda há demanda por esse tipo de viagem”, afirmou Kratochwill, referindo-se ao aumento nas viagens para eventos e cursos profissionais, que passaram de 4,9% em 2020 para 11,6% em 2023.