No primeiro dia das provas do Enem 2023, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o tema da redação, que destaca os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.” O assunto gerou amplo debate em todo o país.
O tema da redação baseia-se em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam que as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas, enquanto os homens gastam 11,7 horas na mesma tarefa. Além disso, o estudo evidencia que as mulheres negras são as que mais realizam essas tarefas, com 92,7% delas envolvidas, superando as pardas (91,9%) e as brancas (90,5%).
Especialistas enfatizam que essa sobrecarga de trabalho recai principalmente sobre as mulheres, criando obstáculos para sua entrada no mercado de trabalho em igualdade de condições, bem como para sua participação na vida pública e em outros espaços sociais ainda dominados por homens.
Enfrentar esse desafio requer um conjunto abrangente de ações, desde políticas públicas até uma mudança cultural que promova uma divisão mais igualitária das tarefas entre homens e mulheres.
O Brasil busca retomar políticas de igualdade de gênero e cuidado, inspirando-se em avanços de outros países latino-americanos, como a Argentina e a Colômbia. O governo argentino reconheceu o cuidado materno como tempo de serviço para a aposentadoria. Bogotá implementou “Quarteirões do Cuidado” para facilitar o trabalho de cuidado. No Brasil, o pagamento adicional de R$ 150 no programa Bolsa Família foi introduzido para reconhecer o trabalho de cuidado. Um seminário internacional será realizado em Brasília para fortalecer políticas de cuidado no contexto da presidência temporária do Brasil no Mercosul. Essas ações visam promover a igualdade de gênero e valorizar o trabalho de cuidado no país.
Especialistas e autoridades buscam políticas e medidas para combater essa desigualdade. Entre as propostas em debate estão a ampliação da licença-maternidade, a instituição de uma licença-parental compartilhada entre pais e responsáveis, o aumento do acesso a creches e a expansão das escolas em tempo integral.