Por Larissa Cavalcante e Hanna Araújo
O Museu Histórico de Acari, que abriga memórias e costumes do povo sertanejo, vai receber uma coleção única de 48 fotografias intitulada “Nossos Entes”, em uma exposição permanente que homenageia a cultura do vaqueiro de gibão, tão intrínseca à identidade nordestina. O fotógrafo Pablo Pinheiro direcionou suas lentes para esses indivíduos, capturando não só imagens, mas a essência de um modo de vida que está desaparecendo. Suas fotografias são um tributo inesquecível a esses heróis do sertão e serão entregues ao Museu no próximo sábado (23), a partir das 9h.
No coração da cultura nordestina, o gibão é mais do que uma vestimenta de couro. É um símbolo de resistência, honra e tradição. “O gibão é a vestimenta de couro que simboliza os vaqueiros, que lidam diariamente com a boiada, percorrendo a vegetação espinhenta do sertão”, descreve Pablo Pinheiro, o homem por trás das lentes que deram vida a essas imagens. “É confeccionado artesanalmente com couro curtido de bode ou de cabra, estendendo-se do pescoço à cintura, com mangas compridas para proteger os braços. É mais do que uma peça de roupa, é um distintivo de honra para esses homens do sertão.”
A exposição “Nossos Entes”, que faz parte da programação da 17ª Primavera dos Museus, promovida pelo Museu Câmara Cascudo, é muito mais do que uma simples coleção de imagens. É um olhar profundo sobre a importância do resgate do vaqueiro, uma figura que, ao longo dos anos, desempenhou um papel fundamental na economia do sertão, mas que muitas vezes permaneceu nas sombras, invisível aos olhos da sociedade.
Confira a programação completa da Primavera dos Museus em Natal
Nas palavras de Pablo Pinheiro: “É uma homenagem a esses homens que estão sempre nos bastidores, fazendo toda a lida, fazendo tudo funcionar, e que muitas vezes são invisibilizados. Eles são a espinha dorsal do sertão, e é nossa responsabilidade preservar suas histórias e tradições.”
O projeto “Nossos Entes” conquistou o Prêmio do IPHAN Rodrigo Melo Franco de Andrade (2020), o Prêmio Ana Maria Galano (2021) – um dos mais renomados no campo das ciências sociais no país – e o Prêmio Pierre Verger/ABA (2022) com a ação, concebida em 2019. Ela foi realizado por meio de uma intervenção urbana em Natal, na qual 60 imagens de vaqueiros em tamanho real, vestindo suas tradicionais vestimentas, foram afixadas nos muros da cidade utilizando a técnica do lambe-lambe.
Pablo Pinheiro, nascido em São Paulo e atualmente com o título de cidadão Acariense (RN), é uma figura multifacetada. Além de sua carreira como fotógrafo, ele também está cursando mestrado em Antropologia Social na UFRN e é membro do NAVIS – Núcleo de Antropologia Visual da mesma universidade. Seu percurso inclui a coordenação do curso superior de Comunicação Digital/Fotografia Digital em São Paulo e o ensino em instituições como UnP e Fanec no Rio Grande do Norte até 2008.
No mundo da arte visual, Pablo atua como fotógrafo, artista visual, editor, produtor cultural e educador. Ele é responsável pela Editora e Produtora Deu na Telha e é um dos fundadores do Círculo da Imagem, organizações que promovem a expressão artística e cultural em suas mais diversas formas.
A exposição “Nossos Entes” é uma jornada emocionante pelo mundo do vaqueiro nordestino, uma oportunidade de conexão com as raízes profundas dessa cultura. Ao adentrar as galerias do Museu Histórico de Acari, as imagens de Pablo Pinheiro convidam a refletir sobre a importância de preservar o passado para construir um futuro mais rico em diversidade cultural. É uma celebração da força, da tradição e da resiliência do povo nordestino, capturada pelas lentes de um fotógrafo empenhado.