Em Areia Branca, no litoral do Rio Grande do Norte, pescadores e moradores das comunidades de São Cristóvão e Ponta do Mel participaram de uma série de oficinas promovidas pelo Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER). As atividades, que incluíram o “Diagnóstico Social Participativo” e a “Cartografia Social”, ocorreram no final de outubro, com o objetivo de ouvir e mapear expectativas e preocupações das comunidades sobre a instalação de uma planta-piloto de energia eólica offshore na região.
O projeto, ainda em fase de licenciamento pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), será o primeiro no país dedicado a estudos de usinas eólicas offshore e deverá estar em operação até 2027. Ele será composto por dois aerogeradores com capacidade total de 24,5 megawatts, instalados a 4,5 km do Porto-Ilha de Areia Branca, fora das zonas tradicionais de pesca e distante de recifes de coral.
As oficinas, que contaram com a presença do Ibama, do Ministério de Minas e Energia e de representantes da Agência Dinamarquesa de Energia, são parte de um esforço de diálogo contínuo entre o SENAI e as comunidades locais. Segundo Mariana Torres, pesquisadora do ISI-ER, as informações coletadas durante as atividades servirão para orientar futuras ações de educação ambiental, comunicação social e capacitação profissional. “A inserção das comunidades em todo o processo… tem o objetivo de engajar as comunidades e aferir o sentimento de pertencimento com a chegada de uma nova estrutura no ambiente do qual são usuárias”, afirmou Torres.
Entre as demandas e expectativas expressas pelos moradores, estão pedidos por oportunidades de emprego, cursos profissionalizantes e escolas de mergulho, além de iniciativas que promovam o papel das mulheres na economia local. A metodologia do Diagnóstico Social Participativo permitiu que as próprias comunidades identificassem problemas e potencialidades de sua região, orientando decisões futuras. “A cartografia social é um processo participativo… que documenta o território, recursos e valores culturais”, explicou Gabriel Lima, pesquisador do ISI-ER, ressaltando que essa abordagem facilita a compreensão das dinâmicas locais e fortalece a inclusão dos pescadores no planejamento do projeto.
O diretor do SENAI do Rio Grande do Norte, Rodrigo Mello, ressaltou que o projeto busca também entender o impacto da tecnologia sobre a fauna e a flora locais, além de sua viabilidade em condições marítimas brasileiras. “Há assuntos tecnológicos fundamentais para o setor de energia eólica… e para o desenvolvimento de uma cadeia [produtiva] em solo brasileiro”, observou Mello.
Com apoio da Agência Dinamarquesa de Energia, o Ibama tem usado a experiência das oficinas para aprimorar os processos de licenciamento de empreendimentos eólicos no país. Em um relatório preliminar, o órgão avaliou que os objetivos foram alcançados “de forma satisfatória”, afirmando que a participação de especialistas dinamarqueses contribuiu para o intercâmbio de conhecimentos com o Brasil.