Após a Prefeitura ter convocado uma sessão extraordinária na Câmara Municipal de Natal para esta quarta-feira (17), com o intuito de votar dois projetos de lei que propõem a concessão do Complexo Turístico da Redinha e do Teatro Municipal Sandoval Wanderley para a iniciativa privada durante 25 e 20 anos, respectivamente, comerciantes da praia e moradores da região denunciaram que o projeto pode acarretar na exclusão de trabalhadores que antes atuavam na Redinha, dando lugar a empresas privadas.
De acordo com trabalhadores, no projeto proposto, os atuais permissionários poderiam ficar mais seis anos em posse dos espaços e, após este período, apenas 10% dos boxes e quiosques que compõem o Complexo Turístico da Redinha ficariam reservados para empresários locais da Redinha e somente 30% das vagas de emprego seriam reservadas para moradores do bairro. “É tirar do povo a possibilidade de estar ali, por uma simples atitude administrativa e comercial, não levando em consideração nenhum fator histórico ou social”, denuncia Rodrigo Dantas, permissionário da Redinha.
Os trabalhadores locais temem não só o aumento do desemprego na categoria, mas também, a descaracterização sistemática da cultura local da praia da Redinha, muito importante para a população de Natal, em especial da Zona Norte. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Rodrigo prevê que as empresas favorecidas pela concessão irão se apropriar de culturas tradicionais: “[…] a prefeitura tá querendo fazer, na verdade, é uma limpeza social ali da beira da praia. Tá querendo tirar todos os trabalhadores que ali exerciam o seu trabalho para colocar várias empresas, se aproveitarem da cultura da ginga com tapioca, vender ginga com tapioca gourmet e transformar a praia numa praia de luxo” conta.
“Aquelas pessoas que trabalham ali na beira da praia, que tiraram o seu sustento e criaram a cultura da ginga com tapioca, não sabem fazer outra coisa. Elas viveram ali toda a vida delas, geração após geração, filho, neto, sobrinho… Um quiosque daquele, um box daquele do mercado alimenta várias pessoas que sobrevivem daquela beira de praia. A praia da Redinha e todos que ali trabalham são uma comunidade tradicional. São pescadores, são gingueiros, que trabalham e que sempre criaram essa cultura na praia”.
Ainda de acordo com Rodrigo, os trabalhadores chegaram a pedir que a Prefeitura realizasse uma pesquisa de opinião com a população natalense, mas o executivo teria se negado e pausado as mediações com os comerciantes, passando o projeto diretamente para análise da Câmara Municipal e seus vereadores, sem alterações que levassem em consideração a opinião pública.
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Enquanto a situação não é resolvida, os permissionários do Mercado da Redinha têm se virado para sobreviver com um auxílio de aluguel social pago pela Prefeitura. Eles alegam que os pagamentos costumam ter frequência irregular, com atrasos. Já entre os permissionários dos quioesques, uma parte teria recebido idenização total, enquanto a outra, idenização parcial com a promessa de poder retornar aos seus postos após a reforma, que ainda não foi concluída.
Protesto da categoria fechou a Ponte Newton Navarro
Em protesto realizado na manhã desta terça-feira (16), trabalhadores da Redinha fizeram um bloqueio da Ponte Newton Navarro. De acordo com a categoria, seus membros compreendem que a paralização afeta parte da população, porém, foi a única maneira encontrada de chamar a atenção do povo natalense e dos vereadores, que votarão o projeto na quarta-feira (17), como conta Rodrigo.
“A gente entende que a população não gosta quando se faz um protesto na ponte, mas essa é a única forma de chama a atenção. Nós estamos em uma causa de mediação com a Prefeitura a dois anos e chegou nesse impasse, porque não era esse modelo de realocação que vinha sendo construído na justiça. A única forma que tivemos de chamar atenção foi fazendo essas mobilizações. Amanhã, vai ter a votação na Câmara e a gente precisa de votos contrários, pra que esse modelo não seja aprovado. Queremos fazer com que os vereadores abram os olhos e vejam que a gente da Redinha, comerciantes, trabalhadores e ambulantes não concordamos com esse modelo de gestão da orla”, disse.