Um fragmento de papiro de aproximadamente 1.600 anos, contendo o texto mais antigo sobre a infância de Jesus Cristo, foi identificado pelo brasileiro Gabriel Nocchi Macedo, professor da Universidade de Liège, na Bélgica.
A descoberta ocorreu enquanto Gabriel e seu colega, Lajos Berkes, examinavam fotos digitalizadas dos papiros da Universidade de Hamburgo. Entre essas imagens, eles encontraram um fragmento escrito em grego antigo que identificaram como uma passagem sobre a vida de Jesus. “Por acidente, quase, por sorte, estávamos olhando fotos dos papiros da Universidade de Hamburgo, que foi digitalizada, e encontramos o papiro, lemos o texto e identificamos como uma passagem sobre a vida de Jesus”, relatou o pesquisador, em entrevista ao portal G1.
O fragmento encontrado faz parte do Evangelho de Tomé, um texto apócrifo sobre a infância de Jesus que não é reconhecido pela Igreja Católica ou outras instituições cristãs. Escrito entre os séculos 4 e 5, o texto descreve o início da “vivificação dos pardais”, um episódio no qual Jesus, ainda criança, molda doze pardais de barro e lhes dá vida, um evento considerado o “segundo milagre” nesse evangelho.
Segundo Macedo, a importância do papiro reside no fato de reforçar a ideia de que os textos do começo do cristianismo eram escritos em grego, a língua da cultura na época. “Esse evangelho da infância é conhecido em nove línguas da antiguidade, mas o original era o grego, e esse papiro é o documento mais antigo que registra esse texto, prova isso”, afirmou.
O papiro, que estava na coleção da Universidade de Hamburgo há cerca de 100 anos sem receber atenção de outros pesquisadores, foi descrito ppelo pesquisador como um “patinho feio” devido ao seu estado mutilado e aparência pouco atraente. No entanto, ele ressaltou a importância de todos os documentos históricos, independentemente de sua aparência. “Registros assim podem trazer muita informação e contribuir com nosso conhecimento do passado. Todas as fontes, mesmo que ‘menores’ e ‘feias’, podem ser importantes”, observou.
A análise preliminar sugere que o documento pode ter sido escrito por um estudante, dado o estilo simples da caligrafia, e não por um copista profissional. A coleção de papiros da Antiguidade da Universidade de Hamburgo foi formada no início do século 20 e é considerada muito importante pelos pesquisadores.