Por Larissa Cavalcante e Luan Conceição
Hoje, 27 de setembro, é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, uma data que nos convida a refletir sobre a generosidade que pode salvar vidas. O tema permaneceu distante por muito tempo para a maioria dos brasileiros, raramente abordado nas conversas cotidianas ou nas preocupações familiares. O sofrimento enfrentado por pacientes que aguardam por uma oportunidade de receber um órgão transplantado frequentemente passava despercebido. No entanto, as últimas semanas testemunharam um acontecimento que trouxe essa questão à tona de maneira marcante.
O apresentador Fausto Silva, uma figura querida e admirada por milhões de brasileiros, enfrentou a necessidade de passar por um transplante de coração devido a uma insuficiência cardíaca há exatamente um mês. Sua urgência o colocou no topo da lista de espera, mas também gerou dúvidas e controvérsias sobre a eficácia e equidade do sistema de transplantes, com acusações infundadas de que ele teria utilizado sua condição financeira favorável para furar a fila do Sistema Único de Saúde (SUS).
O evento trouxe à tona a importância do transplante cardíaco e colocou em destaque o funcionamento da fila de transplantes de coração no Brasil. Afim de esclarecer dúvidas sobre esse sistema crucial, conversamos com cardiologista potiguar Renato Max, explorando não apenas a questão da prioridade, mas também os fatores que afetam a lista de espera e como o Brasil está lidando com a doação de órgãos.
A fila de transplante de coração no Brasil envolve uma série de complexidades que vão além da simples ordem de prioridade. Segundo o médico, a avaliação da gravidade do paciente é feita com base em parâmetros clínicos. Isso inclui a determinação se o paciente está internado, se requer cuidados intensivos em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou se depende de suporte circulatório mecânico para manter a vida.
“A fila de transplantes de coração no Brasil leva em conta a gravidade do quadro de acordo com parâmetros clínicos do paciente. Entre eles, se o paciente está internado ou não, se está em leito de UTI e uso de drogas ou suporte circulatório mecânico para a manutenção da vida do mesmo. Além disso, ela é única para todo a país tanto para a saúde privada ou para o SUS”.
No entanto, mesmo com todas essas especificações, a fila de transplantes de coração no SUS muitas vezes enfrenta atrasos significativos, parte devido à complexidade do processo e parte devido à falta de doadores.
No Brasil, apenas a família de um falecido pode autorizar a doação de órgãos, e muitas famílias recusam essa oportunidade, seja por motivos emocionais, religiosos ou culturais. De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), mais de 59 mil pessoas estão na fila de espera por um órgão. No entanto, em 2022, mais de 45% das famílias não concordaram com a doação.
Para o Dr. Renato Max, é fundamental que aqueles que desejam ser doadores após a morte comuniquem claramente esse desejo à sua família, facilitando a tomada de decisão em um momento tão delicado.
“Quem deseja salvar vidas por meio da doação deve deixar claro para seus entes queridos o desejo de realizar esse ato de amor. Aqui, é importante destacar o papel das comissões de doação de órgãos e tecidos em diversos hospitais, que têm a responsabilidade de apoiar as famílias, explicar todo o processo e oferecer apoio emocional durante esse momento de luto”, destaca o especialista.
Transplantes no Rio Grande do Norte
Atualmente, o Rio Grande do Norte possui a infraestrutura e os profissionais necessários para realizar transplantes de coração. No entanto, o Dr. Renato enfatiza que a saúde cardiovascular não recebe a atenção merecida na região.
“O estado possui um centro de transplante de coração no Hospital Rio Grande, em Natal, um hospital privado com convênio com o SUS. Embora tenhamos essa capacidade, não dispomos de um centro público de referência cardiológica, como ocorre em muitos estados do país, incluindo nossos vizinhos na Paraíba e no Ceará. As doenças cardíacas são uma das principais causas de morte no mundo, e, infelizmente, hoje, no dia desta publicação, 17 pessoas perderão a vida devido a problemas cardíacos em nosso estado, de acordo com dados do DataSus”, alerta o especialista.
A conscientização sobre a doação de órgãos e o cuidado com a saúde cardiovascular são aspectos essenciais dessa discussão, que podem ajudar a melhorar a vida daqueles que aguardam ansiosamente a oportunidade de um novo começo através de um transplante de coração.
Após a realização da cirurgia cardíaca, o apresentador Faustão e sua família passaram a se engajar em debates para estimular a doação de órgãos. Em setembro, eles se juntaram ao Ministério da Saúde em uma campanha para incentivar a doação de órgãos. O apresentador chegou a falar nas redes sociais que sua missão é “transformar o Brasil em campeão de doadores”.
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